sexta-feira, 27 de abril de 2012

"La casa muda"





"La casa muda"
Realizador: Gustavo Hernandez,
Elenco: Florencia Colucci, Abel Tripaldi, Gustavo Alonso

O cinema latino-americano tem assumido, nos últimos anos, grande protagonismo entre os cinéfilos. Se há dez anos se pedisse a alguém o nome de um realizador do Cone Sul, saíria Walter Salles, e a custo. Hoje, qualquer pessoa razoavelmente bem informada sabe quem são Fernando Meirelles, Guillermo del Toro, Alejandro González Iñarritu e Alfonso Cuaron; e o mundo em geral descobriu que Tropa de Elite não é uma divisão especcial dos GOE. Há dois anos, inclusivamente, um filme argentino ganhou o corespondente Óscar para obras estrangeiras.



Não estranha por isso que este "La casa muda" tenha atraído o festival de Sundance a projectá-lo. É um projecto uruguaio, uma cinematografia que desconheço, que vem com um daqueles gimmicks destinados a aparecem em qualquer pedaço de marketing: o filme foi rodado num só take.
O género de terror, a que pertence "La casa muda", habituou-nos a produtos desde género, emulações da realidade documental com sustos e saltos, de que a saga "Paranormal activity" é o exemplo mais conhecido. É de louvar, no entanto, o realizador por escolher um formato onde vários artistas mais consagrados se enfiaram, apenas para verem gorados os seus intentos de fazer obras de relevo. Hitchcock, por exemplo, tentou e "The rope" é mais recordado com um objecto de curiosidade do que propriamente pela sua densidade; Nikita Mikhalkov expetimentou-o em "The russian ark", e bastante bem sucedido. pode-se argumentar, no entanto, que a sua experiência funciona melhor como instalação de arte (e uma muito boa) do que como filme. O take único é utilizado esporadicamente em filmes, mas apenas em cenas especificas. Aplicá-lo a um filme inteiro, e de terror, exige um requintado par de tomates, ou então uma sede insaciável de hype.



Ora, "La casa muda" não é um filme extraordinário, mas não é também uma experiência completamente falhada. A história gira em torno de um casal de pai e filha que são contratados para restaurar uma casa, por um amigo do pai. Ao adormecerem de noite nessa casa, barulhos começam-se a ouvir, e antes que possamos dizer "ruído = a salto na cadeira", já a situação escala para algo mais perturbador. Contar mais é estragar a história do filme. Nota-se, a léguas, que o orçamento envolvido nesta fita dava para construir o capacete de um "Iron Man": os recursos são baixos (utilizam-se apenas duas fontes de luz, há quatro actores e basicamente quatro paredes de cenário) e a história é curta e simples. Não é isto que mancha o filme, porém. Há uma falta de ritmo em momentos, que arrasta a acção. Nota-se que o take único rege algumas das decisões de realização para pior. Mesmo com 75 minutos, um tempo curto para uma longa-metragem, a história estica em certos momentos até ao ponto onde podemos ver através dela, e encontrarmos nada. Não ajuda que a actriz principal, não tendo uma falta de talento grave, repita constantemente os seus tiques de susto, fazendo um espectador menos paciente suspirar com aquele soluço repetido à trigésima vez da mesma maneira.

Mas o que "La casa muda" tem de bom, por estranho que pareça, é o rumo que toma o último acto. Depois de arrastar os pés em busca daquele susto no espectador (e há uns muito bem montados, admita-se: digamos que nunca mais olharei para uma máquina Polaroid com os mesmos olhos), o filme acerta com um twist que não só vira a história toda ao contrário, como o faz elevar-se para uma simples máquina de terror. Há, ali, uma história suja e complexa que nunca esperaria dar-se, e embora me faça questionar algumas consistências na narrativa anterior, dá um tal sentido à história que prescindo dessa mesquinhice. O filme respira de outra maneira, e a meu ver, com um terror muito mais eficaz e próprio, da única maldade que pode assustar mais do que a paranormal. A utilização da câmara é, felizmente, mais ágil do que seria previsível, dando algum dinamismo a um filme onde, como referi, a história se arrasta por vezes lentamente.



Não é que a técnica usada no filme seja essencial para o sucesso do mesmo. Este argumento podia ter sido filmado à maneira clássica e teria o mesmo efeito e, talvez, um poder maior. Mas o realizador experimentou algo de novo, e não fracassa. A obra é interessante, pelo menos, e como primeiro filme, não envergonha nadinha. Ainda há cinema de terror com alguma qualidade, hoje em dia. É preciso saber procurar, e depois desta experiência, estou muito curioso para descobrir o que existe para os lados de Montevideu.

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