segunda-feira, 20 de agosto de 2012

"Cabin in the woods"



"Cabin in the woods", de Drew Goddard, vem reforçar 2012 como o ano de Joss Whedon, que é co-autor do argumento. Tanto Goddard como Whedon, nas suas carreiras televisivas, se entretiveram a construir edifícios de pop culture (o primeiro em "Lost", o segundo em "Buffy", "Angel", Firefly"... you name it). É, por isso, curioso que a sua experiência conjunta no cinema seja, acima de tudo, uma experiência desconstrução do género de terror. A palavra "meta" tem sido utilizada para descrever o filme, mas fica muito aquém. Esta obra é mais de camadas: numa primeira, está a história básica, que envolve um quinteto de jovens, estereótipos do cinema de terror, que decidem passar um fim de semana divertido num cabine perdida no matagal. Como espectadores, sabemos, a milhas, que isto só pode correr mal.



Numa segunda camada, está a outra parte do filme de que não convém falar aqui sob o risco de estragar as várias surpresas que "The cabin in the woods" traz ao espectador. Pode-se apenas dizer que nela, Bradley Whitford e Richard Jenkins são deliciosos, e arriscava-me a dizer que assumem as personalidades dos argumentistas. Mais não pode ser dito.
O filme varia entre cenas de terror e a paródia subtil às mesmas cenas de terror, mas sem nunca entrar dmasiado no terreno do camp, e do gozo. É um filme de terror, ponto, mas com um comentário paralelo que nunca desequilibra o desenrolar da acção. Há uma ambiência "Evil dead" nas operações, com a casa abandonada, demónios aparentes e até um livro cujas palavras dão vida ao sobrenatural. No fim de contas, não há por aqui nenhum Ash, nem de facto qualquer personagem pela qual queiramos realmente torcer. O cinismo de Whedon, particularmente, é patente e a ligeira desumanização das personagens afecta a empatia que temos com as mesmas. Ainda assim, há uma criatividade inventiva nas mortes exibidas, sendo que uma delas, envolvendo um acsso de testosterona súbito pode tornar-se o tipo de coisa épica que se torna num viral do Youtube.



Whedon, esse, deve usado anos e anos de "Buffy" na construção do terceiro acto e twist final do filme. De acto para acto, a história cresce, e transforma-se no final em algo de completamente inesperado e gore de delícia. Este crescendo é bem gerido e orquestrado, e nunca parece realmente forçado. Na verdade, esse vinte minutos finais, mesmo pertencendo a um género quase diferente, encaixam perfeitamente com o cubo de rubik visto anteriormente em forma de imagens. Uma cena particularmente memorável ainda no início do filme, e que envolve uma das mais estranhas cenas de bestialismo que já vi, ganha outra ressonância nesta parte. Tudo está ligado, até aquilo que não se vê.



"The cabin in the woods" será apreciado devidamente por quem conhece o cinema de terror, mas acima de tudo por quem gosta do cinema e se revê nele como arte da manipulação. Em certa medida, é um estranho cruzamento entre o lado de marionetas de "The game" e a análise paródica de "The last action hero", mas filtrada por duas enciclopédias de pop culture, que constroem quase um projecto científico, e muito divertido, sobre aquilo que mexe connosco enquanto espectadores ansiosos por serem assustados. Será, talvez, das melhores traduções fílmicas da forma como funciona a cabeça de um argumentista de terror, com caixinhas agrupadas, sustos e horrores baratos, à disposição de cada um para melhor misturar e assustar os suspeitos do costume.

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