terça-feira, 8 de maio de 2012

Aberturas




A arte da abertura de um filme através de um genérico que nos lance imediatamente na atmosfera e história do mesmo parece ter-se perdido. No entanto, ainda é possível encontrar excelentes exemplos no cinema recente.

"The fall", obra desigual, mas fascinante, de Tarsem tem uma pérola na sua abertura que, sozinha, é superior em arte a muitas longas-metragens. O realizador indiano não prima por ser um dramaturgo, ou daràs personagens e à história a atenção que merecem; no entanto, poucos artífices têm actualmente o mesmo poder destruidor da sua imaginação visual.
"The fall" adequa-se perfeitamente aos seus talentos. É contado em tom de fábula, por um adulto a uma criança; e a backstory do adulto fica estabelecida neste genérico.

O que fascina não é o desenrolar dessa mesma backstory, mas sim a elegância clássica do slow-motion, a captação de micro-expressões escondidas e um renovar de uma das peças de músicas mais usadas em cinema, o movimento Alegretto da 7º sinfonia de Beethoven. Cada cut é uma dissolução entre o real e o irreal, e cada fotograma uma pintura à espera de ser colocada numa parede. O uso do preto e branco é não só adequado à época em que o filme se desenrola, e o próprio meio, mas é uma opção estilística que se deve talvez à própria noção de fantasia e diferença que o contraste com um mundo actual cheio de cor provoca. O preto e branco é a ruptura, e afinal, a reflexão da mente do protagonista.

É um magnífico genérico, e quase uma curta-metragem à parte do resto da fita. Um arremedo de sonho, onde as coisas parecem animais e os animais coisas. Um terreno de fábula, portanto. Mas também de terror, de um certo de surrelismo, onde pedaços do quotidiano tomam o aspecto de criaturas grotescas. Como Tarsem bem definiu, é um caos sem energia.

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