quinta-feira, 17 de maio de 2012

Showdown: Tim Burton - parte 2



10 - "Batman"

O primeiro filme verdadeiramente mainstream de Tim Burton pega num super-herói que o realizador norte-americano retorce o suficiente para encaixar no seu universo. "Batman" é divertido e excessivo, e não agrada a muitos fãs picuinhas de BD, porque mexe em coisas básicas do DNA e história do Homem-Morcego, desde a morte dos seus pais até à origem do Joker. Embora tenha um ou outro aspecto de obra de encomenda (e isto, estranhamente, inclui algumas necessidade de o argumento fazer sentido), esta obra tem marcas bem autorais de Burton, para o melhor e para pior: o sentido de humor negro, o outsider num mundo que é ele próprio um conto gótico em movimento (cortesia dos magníficos designs do malogrados Anton Furst), o excesso por vezes injustifiado e uma maior atenção dada aos freaks do que ao personagens mais regulares. Jack Nicholson rouba o filme e apaga Michael Keaton, que faz alguma figura de corpo presente como Batman; mas esse é o risco que os personagens principais dos filmes de Burton correm quando não são interpretados por Johnny Depp.



9 - "The corpse bride"

Muita gente viu "The corpse bride" como uma sequela espiritual de "A nightmare before Christmas", e há realmente pontos em comum entre as duas obras, desde a técnica utilizada, até ao próprio imaginário monstruoso. No entanto, existe um oceano a separar as duas obras."The corpse bride", dentro da sua premissa de um jovem responsável que se vê obrigado a escolher entre uma noiva viva e outra cadavérica, é surpreendentemente um filme relativamente simples e directo, longe do excesso glorioso da obra de Henry Selick que Burton alimenta com as suas obsessões. Tirando um desvio pelo mundo dos mortos, onde o eterno compositor de Danny Elfman dá a um personagem que lidera um divertido número musical, falta algum fogo de artifício a esta obra que, sendo um bom filme, podia ter-se transformado num objecto de excelência. "The corpse bride" é, no entanto, o regresso a alguma comédia mais sofisticada por parte do realizador, e mesmo que a história nunca cumpra completamente o seu potencial, é um filme de animação muito agradável.



8 - "Charlie and the chocolate factory"

Ao primeiro visionamento, é um filme algo pindérico. Não é a primeira que vez que Tim Burton constrói um conto para crianças (na sua perspectiva, ele até pode argumentar que tem vindo a fazê-lo dsde o início da sua obra). Mas "Charlie and the chocolate factory", por entre os seus momentos doces (e não me refiro á fábrica que dá nome à obra), é de uma acidez assinalável, tratando crianças travessas com castigos desproporcionais e horríveis. Isto é um conto infantil na melhor tradição dos irmãos Grimm, misturando inocência com alguma violência, e mostrando diversão enquanto rasga o caminho com a obra de Roald Dahl em punho. O miúdo Freddie Highmore é o cúmulo da inocência, e há um certo subtexto de família pobre a quem sai a sorte grande, mas tudo isso é esquecido quanto entramos na fábrica e somos esbofeteados com os visuais de grande requinte. É, sem dúvida, dos trabalhos visualmente mais inventivos do realizador. Johnny Depp, a crush masculina de Burton, emula Michael Jackson disfarçadamente, sem nunca ser demasiado creepy, parecendo mais aterrorizado com crianças do que atraído por elas.



7 - "Sleepy hollow"

Não sendo um dos melhores filmes de Burton, é um dos que gosto mais de ver, porque é um delírio visual delicioso e atmosférico, que para além disso cumpre o propósito de ser quase um personagem secundário desta adaptação do conto de Washington Irving sobre uma criatura diabólica que monta a cavalo e vai decepando gente na América do século XVIII. O argumento tem mãos a mais, pormenores narrativos forçados e às vezes nem faz sentido. No entanto, Johnny Depp compõe uma das suas criações bamboleantes mais divertidas, e há todo um ar de gozo e diversão na empreitada a que é impossível engelhar o nariz. Burton ensaia uma ou outra sequência onírica em ambiente de pesadelo, e tem um conjunto de secundários que empresta colorido ao cenário. Estranhamente, há um certo propósito no filme,de misturar a ciência fria e racional com os mundos sobrenaturais da imaginação, como se Burton fizesse um subtil comentário ao cinema moderno e ao abandono que faz da loucura. Mas saindo dessas reflexões mais sérias, um dos melhores trabalhos de realização de Burton!



6 - "Sweeney todd"

Juntar um cineasta com o estilo visual de Tim Burton e o género musical pode parecer um erro de casting. No entanto, os mais atentos à obra do realizador devem ter reparado que a principal fronteira entre os dois mundos é o facto de os actores não cantarem. As bandas sonoras de Danny Elfman, em conjunto com o ritmo próprio das obras de Burton, dão um sentido musical a alguns filmes do realizador. "Sweeney Todd" era o musical da Broadway que estava à espera que Burton assumisse finalmente esse talento que lhe estava latente. A história é à medida do realizador: um barbeiro é condenado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de alguns anos, regressa à sua cidade, Londres, para se vingar daqueles que lhe roubaram a vida. Tudo isso envolvendo navalhas de barba e empadas de carne, com sangue, canibalismo e homicídio à mistura. Tim Burton constrói um território que lhe é familiar, uma Londres do século XIX com a decadência urbana das obras de Charles Dickens e um negro gótico dasde Edgar Allan Poe, o que diz bem daquilo que esta obra entronca em si. A forma como encena todo o macabro como uma comédia negríssima, algures entre o cinema de terror britânico da década de 40 e os seus próprios filmes iniciais (como "Beetlejuice") é espantosa. 

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