Que
estranha tem sido esta temporada de Óscares. O favorito é um filme com muito
pouco de oscarizável, e mesmo o seu concorrente directo é tão estranho que num
ano normal só seria mencionado em categorias de representação. Juntem-se dois
biopics ingleses, mais filmes sobre sociopatas e quando uma biografia de Martin
Luther King correu o risco de nem sequer ser nomeada, sabemos que este ano
torna a arte de prever vencedores em algo muito parecido com o esoterismo.
Posto isto, e fazendo desde já saber que estas previsões têm sempre algo de
preferência, quero desde já dizer que esta colheita é, no geral, razoável, com
alguns exemplares bem dispensáveis e a ausência do melhor filme americano do
ano (“Gone girl”) a tornar tudo o mais quase ridículo em comparação. Partidas
habituais dos Óscares, e já ando a brincar às previsões há tanto tempo que quase me consigo abstrair. Quase. De qualquer forma, o meu aviso é sempre o
seguinte: quando previrem, não tentem puxar a brasa aos que gostaram mais. Nada
tem a ver. Não há que chorar, nem lamentar, nem desejar que ganhe quem
queremos. É o que é e ninguém sabe de nada.
Filme:
E aqui está o problema todo da coisa, onde as regras vão pela janela: diz a
tradição que o vencedor de Melhor Filme se prevê por quem ganha os prémios dos
sindicatos mais importantes – Actores, Produtores e Realizadores. Por outro
lado, nos últimos anos, o BAFTA tem-se assumido como um indicador bem seguro:
quem ganha lá Melhor filme, segue para os Óscares favorito. Para completar o
ramalhete, é muito, muito raro um filme ganhar o prémio máximo sem ter uma
nomeação na categoria de montagem. Ora, existem dois claros favoritos,
“Boyhood” e “Birdman”. Ambos filmes atípicos de Oscar, logo por aí não nos
entendemos. O primeiro ganhou o BAFTA e tem sido o favorito quase desde o
início. O segundo ganhou os três prémios dos sindicatos, mas não tem nomeação
de montagem. “Birdman” tem a ligeira vantagem de ser um filme sobre o mundo do
espectáculo e abordar o mundo do maior corpo de votantes da Academia, os
actores. Mas “Boyhood” cumpre a quota de sentimentalismo que nos últimos anos
tem imperado. Tudo pesado, empate técnico. No entanto, aposto em “Boyhood”
porque me parece que está aqui o cenário perfeito para algo raro: filme e
realizador a não irem para o mesmo.
Realizador:
Aqui, normalmente, não há grande mistério – DGA equivale a Oscar, e a aposta é
Iñarritu. Wes Anderson tem a primeira nomeação, e deve ter ficado contente pela
atenção; Bennett Miller apareceu aqui aos caídos, mas tem sido normal, e é
alguém de quem a Academia claramente gosta; Morten Tyldum é um erro de casting;
e só Linklater tem um trabalho daqueles que sobressai ao ponto do mérito.
Actor:
Carell, Cumberbatch e Cooper, está visto, só vêm para aquecer. Tudo se
resolverá entre Michael Keaton e Eddie Redmayne. O primeiro tem um papel de
total exposição, a identificação com a personagem e ter 61 anos (e a sensação
de que se não ganha desta vez, nunca mais consegue). O segundo interpreta
Stephen Hawking. A Academia gosta de aleijadinhos e Redmayne tem o SAG. Às
vezes esta combinação falha, mas parece-me que interpretar Hawking é o tipo de
seguro que nunca mais tem. Apostem em Redmayne.
Actriz,
Actor Secundário e Actriz Secundária: Julianne Moore, J.K Simmons e Patricia
Arquette. Nem tem história para contar, que eles têm limpo tudo
Daqui
para baixo, os meus palpites são os seguintes:
Argumento
Adaptado: “The imitation game” (mal entregue, que devia ganhar “Whiplash”)
Argumento
Original: Coisas muito próximas entre “Birdman” e “Grand Budapest Hotel”.
Vantagem para a dramédia de Iñarritu
Editing:
A categoria crucial para os Óscares. Quem ganha aqui, segue normalmente para
ganhar Melhor filme. Por isso, aposto em “Boyhood”. Mas cuidado com “Whiplash”
Fotografia:
Mais uma vez, Roger Deakins está nomeado em “Unbroken”, e mais uma vez o melhor
director de fotografia americano vai sair de mãos a abanar: a aposta é no
trabalhode Emmmanuel Lubezki em “Birdman”, pelo show-off do aparente one-shot
Design
de Produção: “Grand Budapest Hotel” tem bastantes nomeações, e este é um dos
destaques da obra de Wes Anderson
Mistura
de som: “Whiplash” é, para mim, o claro favorito; no entanto, “Interstelar” é o
mais evidente nesse campo. Apostem no primeiro, atentem no segundo
Guarda-roupa:
A extravagância de “Grande Budapest Hotel”, na sua nostalgia, será premiada
Banda
Sonora: Alexandre Desplat é dos melhores compositores da actualidade, e já
devia ter ganho um Oscar há muito. Aposto que será desta com “Grand Budapest
Hotel”
Efeitos
Visuais: Anda toda a gente a meter as fichas em “Interstellar” e talvez fosse
justo, mas parece-me que o revolucionário trabalho em “Dawn of the planet of
the apes” levará o prémio
Caracterização:
Altura de saudar o sucesso off-beat de “Guardians of the galaxy”
Canção:
“Selma a erguer-se para defender os direitos blablábla
Curta
de animação: “The dam keeper”
Curta
documental: “Crisis hotline: veterans press 1”
Curta
de imagem real: “The phone call”
Animação:
“How to traing your dragon 2” parece-me o óbvio favorito
Documentário:
“Citizenfour” parece-me encaminhado, mas esta categoria tem sempre surpreendido
nas últimas edições. “Virunga” tem Leonardo di Caprio como produtor…
Filme
estrangeiro: “Ida” tem sido o filme mais falado desde o início, mas a Argentina
arranja sempre maneira de fazer uma gracinha. Já há uns anos encavou “The white
ribbon” e “Un prophet”. Este ano tem “Wild tales”. Aposto na obra de
Pawlikoski, mas com reservas em relação ao seu adversário argentino