quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sugestões rápidas: "3:10 to Yuma"



De quando em vez, um filme ganha o direito a ser mais do que esperamos dele; e hoje à tarde, fui surpreendido por "3:10 to Yuma", um interessante  e muito bem esgalhado western sem a carga mítica do género, mas com toda o elenco de homens duros e lacónicos que o caracteriza.

James Mangold, que o realiza, tem construído uma carreira sem grande génio, mas com trabalhos que têm, ainda assim, qualidade e, acima tudo, chama. "Walk the line", sobre a primeira parte da vida de Johnny Cash, é um biopic by the numbers, mas com energia, uma perfeita noção de ritmo e uma boa direcção de actores; "Kate & Leopold" terá sido o filme mais decente que Meg Ryan fez nos últimos 20 anos, o que pode até nem querer dizer muito, mas é uma comédia romântica muito simpática; e mesmo que o mais recente "Knight and day" não seja um filme digno de nota, destaquemos ainda "Copland", por exemplo, um obra bem interessante, com o único papel de actor a sério que Stallone fez pós "Rambo", e um elenco excelente.



"3:10 to Yuma" confirma uma tendência do Western desde "Unforgiven", a de aparecer pouco, mas dar-nos filmes de qualidade com muita frequência. "Wyatt Earp", por exemplo, não será um filme completamente conseguido, mas tem demasiadas coisas boas para se chamar de falhanço, e o seu irmão "Tombstone" é uma daquelas obras carismáticas e divertidas que empolgam enquanto se vê. Até Kevin Cistner, habitualmente maldito desde o flop crítico de "Waterworld", realizou o magnífico "Open Range", provavelmente o melhor filme do género na década que passou.

O filme conta a história de dois personagens: Ben Wade, (Russel Crowe), um bandido do faroeste  com mais charme do que toda a gente no filme junta e Daniel Evans (Christian Bale), veterano de guerra perneta que luta para sobreviver no seu quinhão de terra com a família, lidando com dividas, a seca e um agiota local que tudo lhe faz para ficar com o trabalho de uma vida. Os dois cruzam-se numa intriga que leva o segundo a participar num grupo que escoltará o primeiro até um comboio que parte à hora do título do filme na cidade mencionada. Pelo meio, o bando de Ben Wade persegue-os e claro está, cadáveres aparecerão e tiros serão disparados.






O que dá interesse a esta obra é a dinâmica entre dois personagens complexos, interpretados magnificamente pelos actores principais. Wade é um criminoso realmente temível, e não é de reputação: ao longo do filme, assistimos às coisas terríveis que faz, e mesmo ao seu desembaraço perante o perigo, mas tem ao mesmo tempo um código moral que respeita e cumpre, mesmo que de vez em quando esse código choque com a lei. No entanto, nunca o vemos completamente como vilão, e essa é a parte onde entra Russel Crowe, que nos seduz com um sorriso matreiro, mesmo quando atira pelo penhasco um tipo que acabou de lhe insultar a mãe. Wade é uma alma nobre e que respeitamos, ao longo do filme todo, perigosa sem nuca nos atemorizar. No outro lado, está um Christian Bale, que mistura orgulho, fé e derrota num homem que, mesmo vencido pela vida, não desiste, e faz de tudo não só para proteger a família, mas principalmente a sua memória perante os seus. Olhado pelo filho mais velho como um incapaz, a sua preocupação é garantir o futuro, mesmo que sacrifique o seu presente; e é isto que Ben Wade aprende a respeitar, um homem que terá talvez a motivação exterior a si para ser bem sucedido, e o que cria a relação entre ambos e sustenta o filme, transportando-o para fora da esfera do western. Um buddy movie bizarro? Não, um buddy movie clássico, com dois homens que se olham nos olhos e respeitam não por aquilo que dizem as suas reputações, mas sim pelo que as suas acções falam por si. Mangold encena todo o filme como um carrossel em viagem, dando ainda a Ben Foster, um actor a ter em atenção, uma espécie de psicopata com o casaco de Ryan Gosling em "Driver". 


Destaque para uma banda sonora de bom nível de Marco Beltrami.

Assistam e depois passem cá, para dar umas palavrinhas sobre o mesmo!

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