quarta-feira, 18 de julho de 2012

Review rápida: "Chronicle"



"Chronicle", de Josh Trank, que surgiu do nada, e sem expectativas, deu em filme bem interessante, num cruzamento entre drama de adolescentes e filme de super-heróis... sem super-heróis. No últimos anos, uma espécie de sub-género técnico de filmes gravados em câmaras caseiras tem crescido com sucesso, ocupando maioritariamente o Terror. No entanto, "Chronicle", partindo desta técnica, utiliza-a para um outro género completamente diferente, e através de escolhas inteligentes e inspiradas, revoluciona-o, ao dar-lhe um estilo e um scope que até agora não se tinha encontrado, através de um uso inteligente da estrutura da história, o que permite novos pontos de vista com a câmara.



O filme conta a história de três jovens completamente diferentes: Andrew é o clássico outsider, com um vida familiar péssima e uma vida escolar pior, tendo como único amigo Matt, o seu primo, um arremedo de pseudo-intelectual, sempre pronto e envergar uma citação filosófica, com popularidade na escola, embora não tão grande como a de Steve, que pode ser justamente classificado como o maior da sua aldeia. O trio encontra uma sala subterrânea, de origem desconhecida, e depois deste contacto, ganha poderes paranormais. O que se segue é precisamente a crónica dos bons tempos e da queda inevitável dos personagens.



O que espanta neste filme não é a inteligência da gestão de câmara ou a aparente opulência dos efeitos (é quase impossível acreditar que o orçamento foram 12 milhões), mas sim a forma como as personagens são tratadas. Trank referencia, por admissão própria, "Akira" e "Carrie" no seu filme, e o tema presta-se a isso. Sentimos, desde o momento em que o trio adquire os poderes, que Andrew virará inevitavelmente para um lado muito negro, mas esse processo é estruturado, lógico e nada apressado. A relação entre Matt e Andrew é o enfoque principal, e ao contrário da fórmula habitual do cinema de liceu, onde quem sofre bullying é adorável e injustamente tratado, Andrew é basicamente um solitário, que joga na defensiva, em grande parte por ser maltratado pelo pai, e é gozado e posto de lado porque se presta a isso. O momento em que realmente explode e em que começamos a perceber o seu papel em toda a trama surge com naturalidade e precipita um terceiro acto da narrativa que tem tanto de espectáculo, como de emoção e, numa palavra que é usada no filme, hubris. É mérito do trabalho dos actores, mas acima de tudo, de Trank e Max Landis, que escrevem um cruzamento dos dois filmes já citados com aquilo que suspeitamos ser uma homenagem velada à história da "Fénix Negra", dos X-Men. Esta história, aliás, foi usada no terceiro filme desta franchise, com muito menos efeito e estilo do que em "Chronicle"; e ainda tinha os personagens devidos e actores mais experimentados. Há sempre no filme, a pairar, um sentimento de inadaptação, tanto dos jovens aos poderes, como de Andrew ao mundo que o rodeia. A frase "Com grande poder, vem uma grande responsabilidade" ribomba sem nunca ser dita, e a ausência de princípios morais conduz a um tom darwiniano que não é comum nos filmes do género. Mesmo os super homens necessitam de regras.



O filme tem defeitos, claro. Há um ou outro cliché que não consegue não soar a cliché na história (os vizinhos bullies, por exemplo), e por vezes, questionamo-nos como é que jovens, ainda por cima dos dias de hoje, andam tanto tempo a ponderar os limites dos seus poderes;  ainda assim, sente-se um verdadeiro contexto dramático no meio de toda a acção, com personagens credíveis,e este é um daqueles filmes que surge de nenhures e nos interessa sem verdadeiramente esperarmos. O filme vai crescendo e crescendo, e nunca vacila. A set-piece final é mais impressionante do que, por exemplo, a fita "Green lantern" toda; a esta teve orçamento mais de dez vezes maior e o homem que tinha reinventado James Bond em "Casino Royale".
 Josh Trank foi escolhido para tomar conta do Quarteto Fantástico, e depois de ver este filme, percebe-se.
Não é perfeito, mas é bom o suficiente para que a não perfeição faça parte do seu encanto natural.


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