domingo, 20 de maio de 2012
"Kick ass"
"Kick-ass" é um filme em cuja palavra "demência" pode ser usada para explicar basicamente o que nos inspira, enquanto o vemos. Porquê? Poderão ler em várias críticas coisas que envolvem palavras como "meta-diegética" e "desconstrução". São giras, mas claramente uma tentativa de intelectualizar o prazer culpado de se gostar de um blockbuster. A BD de Mark Millar e John Romita na qual o filme é baseado presta-se a essa análise. Mas quem é honesto, admite que o filme é demente, porque tem uma miúda de onze anos a matar mauzões como se não houvesse amanhã.
Mas lá chegaremos. O filme conta em traços gerais a ideia parva de um adolescente nerd em transformar-se um super-herói. Para ele, basta vontade e um fato parolo enviado pelo correio. Claro que o primeiro pensamento é "Oh não, mais um daqueles filmes em que não damos nada pelo herói e afinal, ele sempre teve os poderes dentro dele", mas o filme rapidamente afasta essa ideia e enquanto se entretém a satirizar os fenómenos de popularidade internética, mostra-nos que o adolescente, Dave Liszewski, é mesmo tótó. É quando os verdadeiros heróis do filme surgem que a coisa passa do mundo adolescente para o dos super-heróis a sério. Big Dady e Hit-girl, um pequeno prodígio da matança que com a sua katana dupla entra realmente a matar no filme, têm, ao contrário de Kick-ass, capadidades para deter criminosos. Mas também muito pouca sanidade. Rapidamente os três entram em rota de colisão com o mafioso da cidade, Frank d'Amico, e também o seu filho, Chris.
A mensagem do filme é simples: "Sem grande poder, vem uma grande responsabilidade", um riff aos filmes do Homem-Aranha. Matthew Vaughn, o realizador, é um cruzamento bizarro entre o John Woo de Hong-Kong e um Michael Bay com juízo: aproveitando habilmente um orçamento relativamente magro, ele transforma "Kick-ass" num pequeno concentrado de loucura visual e de história, com Nicolas Cage a imitar o Batman de Adam West. Hit-girl (Chloe Grace-Moetz a ser uma revelação), a miúda acima referida, mata gente, diz palavrões à bruta e aceita a destruição como brincadeira. No entanto, nunca nos esquecemos de que ela é realmente uma miúda, como se fosse a filha perdia da noiva de "Kill Bill" e a Mathilda de "Léon". Isto pode abespinhar moralistas e gente que considera que sempre que se mostra uma arma num filme, as pessoas correm a matar alguém, mas é no fundo um espelho da nossa própria identidade fílmica, de aceitar a violência nos filmes como algo de normal e natural. Nesse sentido, o filme é mais paródia ao cinema violento do que ao cinema de super-heróis. Mas consegue ser bem sucedido em ambos os esforços. Louva-se também o retrato mais ou menos natural do que é a vida de um nerd numa escola, sem exageros. Há apenas uma sub-intriga envolvendo homossexualidade que achei meio cliché... Mas que ainda assim, tem a sua piada.
É um filme que se recomenda a quem gosta de entretenimento delirante e não tem uma sensibilidade particular a um ou outro tabu. Ah, e que não acha o conteúdo do seguinte vídeo particularmente ofensivo.
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